sexta-feira, março 3

CINESESC - O bastião das relação familiares


Simples, irregular e surpreendentemente simpático

Winter Solstice (Sobre pais e filhos - USA -2004)
Direção: Josh Sternfeld


Sinopse:
Um pai viúvo tem de lidar com os problemas de seus dois filhos: um quer se mudar de cidade e o outro carrega as dúvidas da juventude.

Sobre.
Mais uma abertura que diz ao que veio em cinco planos e menos de cinco minutos. A própria condição de lar sem mãe já exposta na entrada. Disso para a questão da viuvez ou do abandono, quase não importa naquele exato instante do filme.

Um retrato do cotidiano. Recheado de imagens belas. No entanto para chegar a estas imagens ou situações, muitas vezes Josh deixa o trem dar uma descarrilada. Será um estilo, ou só uma forcinha. Uma destas é a reação do pai, após os filhos não irem com ele a um jantar. Numa reação desproporcional, Jim (o pai), coloca o colchão dos filhos para fora de casa. Dentro de tantas "oportunidades" para estourar, ele escolha, no mínimo, mais arriscada para o filme. No entanto a reação dos filhos ao encontrarem os colchões fora de casa é algo de espantoso. Um desacordo consentido, tanto, que lhes causa até certa graça.

Mas não fica só nisso. Incrivelmente o filme é melhor quando as coisas não são ditas diretamente. Todos os diálogos mais tensos e chaves para o filme parecem dirigidos com uma ansiedade, em contramão da atmosfera cotidiana. Não que o cotidiano não apresente tensões, ainda mais num ambiente onde as comunicações são estabelecidas de soslaio. As arestas formadas, muitas vezes, não cabem na sala. Mas ansiedade não está só no que é dito, mas no como é dito, e principalmente num corte de cena em plano e contra plnao que é totalmente anticlimática. Talvez uma paranóia por encurtar tempo, talvez só afobação mesmo.

Felizmente, o filme é composto em sua maioria de cenas cotidianas, sem diálogo e com uma trilha sonora muito simpática. É de uma leveza absurda as cenas de Gabe (o filho mais velho) com a sua namorada Stacey (Michelle Morgan) - talvez o personagem mais calado e mais impressionante de todos, diga-se com uma participação mínima no filme. Dentre estas marcam especialmente o dia que Stacey vai devolver as coisa de Gabe, quando este está prestes a ir embora (ele não está em casa e ela sabe disso, e os diálogos não ditos são entre o Pai, Jim, Cite, o irmão menor e Stacey..momento genial). A despedida de Stacey. Parada, a metros de distância de Gabe, apenas levanta a mão, mas nos rostos de ambos, tá toda a história deles). A véspera da ida de Gabe, ele encontra Pete e o chama para sair. Ai a mão pesada do diretor nos priva de uma seqüência maior de uma das cenas mais belas do filme. Com a música tema Gabe e Pete andam em plano geral numa estrada, cercada de vegetação amarelada de pinhos americanos. Em seguida ambos numa plataforma quadrada de poucos metros, boiando no meio de uma lago, e pulando ...e um outro diálogo onde nada é dito, mas tudo é dito. A incomunicabilidade funcionando como comunicação...E a seqüência final, onde ai sim a ação fluí como água tranqüila. Um encerramento maravilhoso, and life goes on.

Indignação
Não sei se achei o filme bom. Talvez não muito, ainda que de ontem para hoje ele tenha melhorado tremendamente em minha cabeça. Me ganha sobretudo pelo ordinário da vida. Ok, o filme não é obra prima, mas o que leva um ser humano, mas bem o ser humano, chamado Kirk Honeycutt a escrever o que ele escreveu?

Desculpem eu me indignei com algumas coisas:

1) "...Mas há uma diferença entre economia de recursos e uma pobreza absoluta de narrativa. Tão pouco é falado e a realidade é tão pequena e lenta que tornam o filme insuficiente..." Tudo bem, há um trecho entre a decisão de Gabe de partir e sua ida que o filme perde o rumo, e o cotidiano torna-se vazio de significado. Mas pobreza absoluta de narrativa é demais. Pobreza de espírito do Sr Kirk.

2) "...Durante um bom tempo, Sternfeld retém informações sobre a morte da esposa. Ele simplesmente retrata uma família que não consegue se comunicar, sem dizer o motivo dessa falta de comunicação...." E precisava dizer o que depois destes 6 primeiros planos: 1) Jim lava a louça do jantar; 2) Pete e Gabe vem jogo de Baseball. Pete tenta consertar a imagem da TV, gabe lhe joga um sapato na cabeça, eles começam a brigar, e logo torna-se uma brincadeira. 3) Em baixo, Jim escuta-os, faz uma cara de isso que malas mas tudo bem. 4) Jim acende um cigarro na varanda e fica pensando. (Tudo bem numa descrição fria assim fica até difícil, mas da maneira que esta seqüência é filmada está TUDO lá)

3) " ...Então, quando o pai revela a uma nova vizinha (Allison Janney), pela qual nutre um certo interesse, a circunstância envolvendo o trágico acidente com sua esposa, o filme deveria acabar aí. Mas não é o que acontece. E não há mais nada que se precise saber..." Ele não pode estar falando sério. Afinal, o que menos importa é o que aconteceu, nem como aconteceu, mas como as relações se dão. E elas vão continuar a se modificar, o filme podia ter 38 dias de duração, falando sobre o cotidiano, nunca seria o "suficiente".

4) "...O que não é explicado é o motivo de os dois filhos serem tão canalhas. O mais velho (Aaron Stanford), compreensivelmente quer sair da cidade a qualquer custo. Ele vai para Tampa principalmente porque tem um amigo que mora ali.Mas ele não tem sensibilidade ao contar a sua estratégia de fuga para sua doce e leal namorada (Michelle Monaghan) nem para sua família, apenas alguns dias antes da grande mudança.O filho caçula (Mark Webber) é bem pior. Ele se indispõe com praticamente todo mundo que conhece e segue pela vida sem um objetivo. Claro, podemos adivinhar que isso acontece devido à culpa de quem sobreviveu a um trágico acidente...." Canalhas??? Kirk tem filhos? que tipo de criação ele dá a eles? Quem com 16 anos 17 anos tinha um objetivo na vida. tem gente de 40 que não tem, nem por isso são canalhas. Qual o crime de optar por um tiro no escuro ao invés de ficar no conforto e segurança com uma namorada leal, linda e companheira? (parece loucura, mas ainda não é crime). Como podem ser canalhas... Lembro-me que desde o anuncio de Gabe de que ele deixaria a casa, não havia mais conversado com Pete, um assunto tabu. Na véspera ambos vão nadar no lago gelado, e Sr Kirk, lembre-se das poucas frases daquele Dialogo: Pete: Então..Tampa não? Gabe: é..Pete: aposto que você não sabe nada sobre Tampa....(silêncio) não é mesmo..Gabe:é..não sei..Pete: Você está indo para a cidade mais chata de toda Flórida... (risadas)...mas você tem que fazer o que tem que fazer..vamos nadar!! Kirk..lose your self, só um pouco, pela sua sanidade mental..


CINESESC
As Chaves de Casa - 15hs - 17:10-19:30
Sobre pais e Filhos - 21:30